quinta-feira, 28 de julho de 2011

Tudo Termina Aqui


Durante a projeção, não pude conter as lágrimas. E fico feliz ao perceber que não foi de tristeza. Ao subirem os créditos, o sentimento dentro de mim era muito forte e vivo. Ora, não parecia o fim. A parte final da saga de uma geração, encerrou de modo impactante, e garantiu o lugar da franquia Harry Potter na história do cinema. Garantiu também um lugar especial na minha memória e na minha vida. Não foi melancolia e tristeza o que eu sentia no fim do filme. Confesso que, durante a abertura, quando o logo sombrio da Warner veio em minha direção (em 3D), me senti triste em saber que aquela seria a última vez que sentaria na sala de cinema para apreciar mais um capítulo inédito da história de Harry. No entanto, ao longo do filme, essa sensação logo foi misturada, e depois substituída por muitas outras: empolgação, medo, angústia, emoção, até mesmo riso. Quando dei por mim, estava inserido na história, participando da batalha épica em Hogwarts, um combatente na luta final contra as forças das trevas. E felizmente, as lágrimas não foram de tristeza e saudade como havia previsto; foram de emoção diante de atuações tão sublimes e ao mesmo tempo abaladoras de Alan Rickman, Ralph Fiennes, Dan Radcliffe e todos os outros. Encarnando personagens complexos em sua natureza, eles guiaram o destino final de cada um com delicadeza e às vezes com a brutalidade necessária. O suficiente para nos atordoar, de modo que sentimos ódio ou compaixão por cada indivíduo fictício apresentado a nós. Depois de dez anos, finalmente percebemos o verdadeiro caráter de alguns deles, e com isso, aprendemos verdadeiras lições para toda a vida. A saga de J.K. Rowling é repleta de profundas discussões acerca da coragem, da amizade, do amor e do ódio, o bem e o mal, a vida e a morte. E somente ao conhecer o capítulo final, conseguimos finalmente compreender essas lições, que eu levarei para o resto da minha vida. Não é de efeitos especiais que um bom filme é feito. E sim de personagens inesquecíveis e atuações tocantes. David Yates consegue provar isso quando, ao encerrar o filme, a última cena não é uma tomada aérea, mostrando Londres, Hogwarts ou outro cenário fabuloso, como qualquer outro diretor não resistiria a fazer. O filme se encerra próximo aos personagens. São eles que fazem a diferença.

Trailer de Harry Potter and the Deathly Hallows Part 2, o último trailer da série:


segunda-feira, 11 de julho de 2011

Tédio


Eram nove da manhã. Fazia um belo dia, embora ninguém reparasse nisso. Afinal, todos tinham assuntos mais importantes para lidar do que o tempo, como por exemplo, documentos e papeladas . Roberto bebericava seu café, a única coisa que o mantinha acordado naquela manhã sonolenta. Suas pálpebras pesavam. Ele tivera uma péssima noite de sono. Sua escrivaninha estava perfeitamente organizada, naturalmente. Ao contrário de sua mente. Lia os e-mails, sem absorver uma única palavra. Josias, seu colega, comentou: “Roberto, você está bem? Está palido!”. De fato, suava, mesmo com o ar condicionado. Parecia febril. Manteve a calma, e continuou seu relatório, pois deveria finalizá-lo ainda antes do almoço. Se aquilo poderia ser chamado de almoço, uma fritura na padaria da esquina, todos os dias. Roberto continuava a escrever seu relatório, quando de chofre, parou. Sentiu um súbito tédio, profundo, na alma. A sala estava completamente silenciosa, a não ser pelo som do ar condicionado. Todos absortos em seus afazeres. Inúteis afazeres, refletiu por um instante. Todos os dias acordava cedo, ia para o escritório, no mesmo ambiente insípido de paredes brancas, com as mesmas pessoas tão chatas quanto ele, fazia a mesma coisa vã de sempre, que não valia nem mesmo seu razoável salário. Almoçava mal, e voltava ao ofício. Chegava em casa exausto, às oito, cada filho em seu quarto, em seus respectivos computadores. Jantava solitário, tomava banho e dormia, somente para acordar em outro dia exatamente igual. Sentiu então, uma inexorável vontade de sair daquela prisão. Levantou-se e olhou pela janela do prédio. Através do límpido céu azul, planava um imponente pássaro, de asas abertas, e suas penas refletiam a luz do sol. Roberto desejou ser um pássaro. Sem problemas ou estresse, e a liberdade de voar pelos céus.
Abriu a janela,e em uma repentina loucura, pulou. Esticou os braços, como se fossem asas, planando tranquilamente. Sentiu a brisa suave em seu rosto, e não se assustou. Desejara isso durante toda a sua vida, e agora, parecia perfeitamente natural. Somente sorriu, a felicidade inundando seu coração…
Então um estalo o acordou. Apontou o lápis novamente, e continuou no rascunho do relatório.
Tempos difíceis estão por vir, e em breve, teremos que escolher entre o que é certo, e o que é fácil - Alvo Dumbledore