segunda-feira, 11 de julho de 2011

Tédio


Eram nove da manhã. Fazia um belo dia, embora ninguém reparasse nisso. Afinal, todos tinham assuntos mais importantes para lidar do que o tempo, como por exemplo, documentos e papeladas . Roberto bebericava seu café, a única coisa que o mantinha acordado naquela manhã sonolenta. Suas pálpebras pesavam. Ele tivera uma péssima noite de sono. Sua escrivaninha estava perfeitamente organizada, naturalmente. Ao contrário de sua mente. Lia os e-mails, sem absorver uma única palavra. Josias, seu colega, comentou: “Roberto, você está bem? Está palido!”. De fato, suava, mesmo com o ar condicionado. Parecia febril. Manteve a calma, e continuou seu relatório, pois deveria finalizá-lo ainda antes do almoço. Se aquilo poderia ser chamado de almoço, uma fritura na padaria da esquina, todos os dias. Roberto continuava a escrever seu relatório, quando de chofre, parou. Sentiu um súbito tédio, profundo, na alma. A sala estava completamente silenciosa, a não ser pelo som do ar condicionado. Todos absortos em seus afazeres. Inúteis afazeres, refletiu por um instante. Todos os dias acordava cedo, ia para o escritório, no mesmo ambiente insípido de paredes brancas, com as mesmas pessoas tão chatas quanto ele, fazia a mesma coisa vã de sempre, que não valia nem mesmo seu razoável salário. Almoçava mal, e voltava ao ofício. Chegava em casa exausto, às oito, cada filho em seu quarto, em seus respectivos computadores. Jantava solitário, tomava banho e dormia, somente para acordar em outro dia exatamente igual. Sentiu então, uma inexorável vontade de sair daquela prisão. Levantou-se e olhou pela janela do prédio. Através do límpido céu azul, planava um imponente pássaro, de asas abertas, e suas penas refletiam a luz do sol. Roberto desejou ser um pássaro. Sem problemas ou estresse, e a liberdade de voar pelos céus.
Abriu a janela,e em uma repentina loucura, pulou. Esticou os braços, como se fossem asas, planando tranquilamente. Sentiu a brisa suave em seu rosto, e não se assustou. Desejara isso durante toda a sua vida, e agora, parecia perfeitamente natural. Somente sorriu, a felicidade inundando seu coração…
Então um estalo o acordou. Apontou o lápis novamente, e continuou no rascunho do relatório.

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Tempos difíceis estão por vir, e em breve, teremos que escolher entre o que é certo, e o que é fácil - Alvo Dumbledore